Milhares (muitos milhares) de crianças angolanas estão em risco de contrair doenças que poderiam ser evitadas pela vacinação. Mas, com a criminosa conivência da comunidade internacional, as prioridades do regime são outras. Compreende-se a estratégia do regime. O grosso das vítimas são apenas e só uma subespécie de angolanos.
Por Orlando Castro
Angola enfrenta nesta altura dificuldades económicas, justifica – em nova dose de mistificação e hipocrisia – o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Mas não foi sempre assim, pois não? Claro que não. Mas o que é que isso importa? Para que poucos tenham muitos milhões de dólares, muitos milhões de angolanos têm pouco, muito pouco, ou nada. Mas isso, é claro, passa ao lado – como sempre passou – da UNICEF.
Numa nota alusiva à Semana Mundial de Vacinação, que decorre de 24 a 30 de Abril, aquela agência das Nações Unidas refere que no mundo cerca de 18,7 milhões de crianças não completam o calendário de vacinação e estão expostas a doenças que colocam em risco a sua vida.
O documento frisa que cerca de dois terços das crianças por vacinar vivem em países afectados por conflitos armados, que degradam os principais serviços de saúde, incluindo a vacinação, e sublinha que Angola, embora tenha ultrapassado essa fase, enfrenta gora desafios económicos “que colocam em risco a manutenção dos ganhos alcançados até agora”.
É claro que o regime esclavagista de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, não precisa das justificações da ONU. Não precisa e está-se nas tintas para elas. Mesmo assim, num manifesto acto de branqueamento do regime, a UNICEF vem desculpar o que, de facto, não tem desculpa.
Acrescenta a UNICEF que o actual cenário epidemiológico em Angola, marcado particularmente por um surto de febre-amarela, que já afectou 16 das 18 províncias, e causou já mais de 250 óbitos, “é um sinal mais que evidente da necessidade de se prestar maior atenção à questão da vacinação como medida de prevenção”.
Bem que a UNICEF poderia não tentar tapar o Sol com uma peneira. Bastava-lhe ir ao terreno para verificar que esses tais 250 óbitos pecam terrivelmente por defeito. São muitos, mas muitos, mais. Basear-se apenas nos dados oficiais assemelha-se a perguntar a uma raposa como está o ambiente no galinheiro que está às suas ordens.
A UNICEF comete, além disso, um outro crime. Para além do branqueamento do regime, trata os angolanos como matumbos. Esquece-se que nós podemos ser pobres, famintos até, mas não somos desprovidos de inteligência.
O representante do UNICEF em Angola, Francisco Songane, reiterou o apoio que aquela agência da ONU se comprometeu a dar ao Governo do MPLA, quer a nível central quanto provincial, no reforço do sistema de vacinação associado a outras intervenções que garantam sustentabilidade.
“A nossa organização apoia o fortalecimento do sistema de vacinação de rotina, garantindo que este alcance as famílias mais vulneráveis e aquelas que residem nas áreas rurais, pois isto permite reduzir drasticamente a morte de crianças menores de 5 anos”, disse Francisco Songane, citado no comunicado.
Seria bom que Francisco Songane explicasse como pode dar essa garantia. O apoio será acompanhado no terreno por equipas da UNICEF? A quantidade de vacinas será controlada pela UNICEF? Ou, como agora, vamos encontrar casos em que as vacinas vão para os hospitais e depois desaparecem para surgirem em farmácias particulares, por sinal propriedade de altos funcionários desses hospitais?
Por sua vez, o representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Angola, Hernando Agudelo, frisou a importância de se vacinar não só crianças, mas todas as pessoas, para se evitar doenças que se podem prevenir pela vacinação.
Hernando Agudelo limita-se a dizer o óbvio. Todos sabemos da importância da vacinação. O problema não está aí. Está em saber se as vacinas são aplicadas, onde, a quem, e em que condições.
Recorde-se que a Organização Não-Governamental internacional The Global Fund concluiu que cerca de 4,3 milhões de dólares em fundos destinados ao programa de combate à malária em Angola foram desviados por dois responsáveis locais.
Esta conclusão consta do relatório de investigação daquela ONG, que “confirmou as preocupações” anteriores, responsabilizando uma coordenadora das Finanças e o coordenador-adjunto do Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) pelo desvio, em 2013, para empresas que ambos “detinham ou às quais estavam afiliados de forma próxima”.
“Ocultaram os desvios com documentação forjada e informação falsificada para dar às transacções uma aparência de legitimidade”, aponta-se no relatório da investigação da The Global Fund, com data de 1 de Março.
Sobre isto, o Folha 8 escreveu no dia 19 de Março que “o Fundo Global vai deixar de apoiar Angola no combate contra à Malária, Sida e Tuberculose a partir de 2018, por ter havido de forma deliberada o desvio de quatro milhões de dólares americanos em fundos do programa da malária”.
A malária é a principal causa de morte em Angola e até ao momento, aquela ONG, com sede em Genebra, Suíça, já investiu no país, só para combater a doença, 95,4 milhões de dólares, fornecendo “aos cidadãos angolanos um acesso universal à prevenção e tratamento”, diz a instituição.
Envolvendo ainda o combate à tuberculose e o reforço do sistema de saúde angolano, aquela organização internacional investiu no total 189,2 milhões de dólares, com seis subvenções atribuídas a Angola desde 2005.
Mas há mais. Aliás, graças a este regime, em Angola há sempre mais alguma coisa… má. Há cerca de três meses que o país está com dificuldades na administração da vacina BCG, contra a tuberculose, aos recém-nascidos, em falta no país.
Recentemente, o governador da província de Luanda, Higino Carneiro, disse que o Governo disponibilizou verbas específicas para a aquisição dessa vacina.
Na semana mundial da vacinação, os países são convidados a implementar acções de reforço da vacinação, particularmente nas áreas de baixa cobertura vacinal, com equipas móveis e avançadas, com promoção de mensagens pelos diferentes canais de comunicação.
Por outras palavras, o regime de sua majestade o rei de Angola não conseguiu que um país rico produzisse, em 40 anos de independência, riqueza. Conseguiu, contudo, que produzisse um número significativo de ricos e muito ricos. Tem, aliás, a mulher mais rica de África e uma das mais ricas do mundo. Por sinal, filha do rei.